Experiência Interativa de Três Linguagens Artísticas

 

Assombros é o resultado do trabalho conjunto de três artistas, cujas linguagens expressivas foram reunidas para proporcionar ao visitante/espectador a vivência de uma experiência interativa única e surpreendente.

 

Integração de Artes Visuais, Cênicas e Sonoras

 

A proposta da exposição instalativa Assombros busca integrar as artes visuais, cênicas e sonoras. A atriz e performer Simone Reis atua em cenas curtas, com duração entre quatro e cinco minutos cada, a partir de roteiros idealizados e desenvolvidos por ela e pelo dramaturgo Camilo Pellegrini, que também atua como diretor de cena. Posteriormente foram gravadas com recursos de tecnologia audiovisual avançada, criadas pelo artista de novas mídias Iain Mott.

 

Caixas Óticas: Mídias Novas e Arcaicas

 

Iain Mott projetou e construiu as caixas óticas. De formato semipiramidal, impecavelmente brancas e assépticas, alinhadas cenograficamente, elas evocam urnas mortuárias. Possuem uma janela circular, como uma escotilha, que permite ao espectador ver o que acontece em seu interior. A engenharia com a qual Mott concebeu as caixas é surpreendente. Mesclam-se ali curiosos sistemas óticos criados em séculos passados com recursos sonoros e visuais contemporâneos, que resultou no o encontro de tecnologias aparentemente díspares aos quais o Iain denomina “mídias novas e arcaicas”.

 

Tecnologia Pepper's Ghost e Som Ambissônico

 

Primeiro Mott tomou de empréstimo a configuração dos gabinetes de visualização, o Boîte d'Optique do século XVII, que eram construídos a partir de um jogo de lentes, espelhos e imagens estáticas bidimensionais coloridas, aprimoradas com pequenos cenários que criavam a ilusão de perspectiva, profundidade e tridimensionalidade. Este formato foi combinado com uma ilusão teatral dos palcos de Londres e Paris do século XIX, o Professor Pepper's Ghost. Modernizado com vídeo digital, personagens são projetados dentro de cenografias em cada caixa, criando uma experiência imersiva que amalgama técnicas históricas com recursos contemporâneos. Em seguida projetou ali imagens videográficas de atuações de Simone Reis, sonorizadas por meio do software “Mosca”, desenvolvido por ele mesmo, um recurso sonoro avançado, “ambissônico” cuja construção, grosso modo, dispõe canais de áudio em 360 graus para proporcionar uma experiência auditiva imersiva, fazendo com que o som pareça vir de todas as direções ao redor do ouvinte. Essa traquitana sonora e ótica faz com que o interior de cada uma das cinco caixas funcione como um ambiente cenográfico, o cenário de um palco virtual e tecnológico miniaturizado, ocupado pela gravação dos esquetes.

 

Narrativas Autoficcionais e Anton Tchekhov

 

Nos roteiros prepondera a síntese, a economia de imagens e palavras. São cenas rápidas, cujas temáticas ou narrativas ficcionais ou autoficcionais, aglutinam reminiscências de memórias individuais ou coletivas, misturadas a trechos de falas das personagens femininas arquetípicas Arkadina, atriz consagrada, e Nina, uma jovem aspirante a atriz, da peça A gaivota, do russo Anton Tchekhov (1860/1904) ou ainda da versão contemporânea de Nina, revisitada pelo dramaturgo, poeta e jornalista romeno-francês Matéi Visniec.

 

Performance Visual e Auditiva Imersiva

 

Em cada um dos cinco textos Simone interpreta (ou, talvez mais adequadamente, “performa”) personagens aparentemente bizarros em sua normalidade. A encenação provoca os sentidos visual e auditivo: em termos sonoros, o texto fragmentado, as frases recortadas, cuidadosamente escolhidas, ou as palavras soltas, flutuantes, misturadas ou replicadas aos sons e melodias ambissônicos ressoam não somente no espaço cênico da caixa e dos fones de ouvido, mas no espaço imaginário único do espectador. Quanto ao aspecto visual, as imagens são exuberantes: a maquiagem cadavérica, o figurino composto por véus translúcidos, plumas, pompons, flores, leques, buquês, ramalhetes de plástico barato, de cores vibrantes, proporcionam uma riqueza quase caleidoscópica de imagens e signos indecifráveis, ou abertos às mais possíveis ou impossíveis leituras.

 

Fusão de Materiais e Tecnologias Contemporâneas

 

Os miniespectáculos criados por Iain Mott, Camilo Pellegrini e Simone Reis no interior das caixas óticas fundem materiais, tecnologias e gêneros e estabelecem um jogo fluido e delicado, dilui fronteiras, embaralha documentos da realidade e da cena e não se recusam a discutir com as sombras, palavras e vultos. Butoh e Tiktok, tragédia e chanchada, incômodo e gargalhada, instante e eternidade, divas e ectoplasmas – enfim, esses e tantos outros opostos, agregados às nuances entre uns e outros deles, são o que o espectador certamente encontrará em Assombros.

 

 

Texto: Gladstone Menezes 

 

Elenco/Ficha Técnica

Concepção, performer/atriz: Simone Reis
Concepção, design de instalação e sistemas, sonoplastia, diretor de fotografia e vídeos, programação de computadores, fotografia, design gráfico e cenário: Iain Mott 
Dramaturgia e direção cênica: Camilo Pellegrini e Simone Reis
Poesias: Simone Reis
Direção artistica e produção: Iain Mott e Simone Reis
Figurino: Súlian Princivalli e Simone Reis
Maquiagem: Simone Reis
Produção Executiva e Coordenação Administrativa: Robson Castro (Cia Inexistente) e Marconi Valadares (Quanta Produções)
Secretaria de Produção: Silvana Viana (Sankofa Produções)
Montagem de exposição, artes de divulgação, videoclipe do projeto: Bruca Teixeira 
Redes Sociais: Vitor Borysow
Assessoria de Imprensa: Rodrigo Machado (Território Cultural Assessoria de Comunicação)

Patrocinio

Fundo de Apoio à Cultura da Secretária de Estado de Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).

Agradecimentos

Davi Reis Mott
Gisel Carriconde Azevedo
Gladstone Menezes
Jean-Michaël Celerier
Jim Sosnin
Marc Raszewski
Marcela Hollanda
Mila Petrillo
Phil Jones
Thibaud Keller
Yuri Fidelis

Construção

MDF, vidro, acrílico, gesso, isopor e objetos e materiais avulsos. 

Hardware eletrônico

Micro-computadores Raspberry Pi 4, controlodores de iluminação customizados (IRLZ34N mosfet), fita LEDs RGB 12V, mini-refletores LED 12V, Telas AMOLED, Arduino Nanos, botões e potenciômetros.

Software

Arch Linux, liblo (adaptado), pigpiod, OSSIA ScoreMosca, Ardour, DaVinci Resolve 19, Apache II, Android-Kiosk Browser, Automate, entre outros.

Linguagens

Shell scripts, SuperCollider, C, p5.js, PHP, HTML.